Serpros

Economia solidária: Mudar hábitos de consumo e investir no essencial

Economia solidária: Mudar hábitos de consumo e investir no essencial

04/04/2016
Sabe aquele grupo de pessoas que ficam na praça, organizam- se em feiras e priorizam produtos feitos de forma ecológica e socialmente responsável? Apesar da aparência amadora, eles estão cada vez mais organizados, têm movimentado a economia e representam uma tendência de consumo consciente que se vem disseminando em espaços rurais e urbanos.
Segundo o site do Ministério de Trabalho e Emprego (MTE), no Brasil, além do Fórum Brasileiro de Economia Solidária, existem 27 fóruns estaduais com milhares de participantes (empreendimentos, entidades de apoio e rede de gestores públicos de economia solidária) em todo o país. Reforçando a importância do movimento, o Governo Federal, em 2003, criou a Secretaria Nacional de Economia Solidária, para promover o fortalecimento e a divulgação da economia solidária através de políticas integradas visando ao desenvolvimento por meio da geração de trabalho e renda com inclusão social.
Apesar de o nome ter sido criado no Brasil, trata-se de um movimento que ocorre no mundo todo e diz respeito à produção, ao consumo e à distribuição de riqueza com foco na valorização do ser humano e do meio ambiente. Tudo baseado em um jeito diferente de produzir, vender, comprar e trocar os bens necessários para viver.
Grupos solidários
Nos últimos anos, a prática tem sido adotada por cooperativas e grupos de trocas, como é o caso do Liberte Suas Coisas, formado por moradores do município do Rio que desejam doar objetos, móveis e roupas. A página do grupo no Facebook reúne mais de 9 mil participantes e oferece os mais diferentes tipos de produto. A doação de móveis é a opção mais procurada.
“Temos o costume de acumular coisas que não usamos mais. Fazer parte de um grupo como esse me permite dar um fim mais útil e interessante para coisas que estavam encostadas e juntando poeira na minha casa”, conta a estudante Paula Cavalcante, uma das participantes do grupo online.
Nesse tipo de negócio, o mais importante é incentivar a cooperação, em vez da busca pelo lucro. O conceito de troca solidária surgiu no Canadá, na década de 80, e vem se popularizando. “Quem entra em uma rede desse tipo busca trabalhar o senso de comunidade e o desapego material, em oposição à cultura do desperdício. O que a gente quer é evitar o acúmulo desnecessário e formar redes de cooperação”, explica
João Paulo Magalhães.
O advogado faz parte de outro grupo que vem fazendo sucesso nas redes sociais, o Desentulha, Troca e Empresta. Com cerca de mil participantes, a página no Facebook investe no consumo consciente e aceita somente negociações que não envolvam dinheiro. “Tudo aqui é trocado ou doado. Esse tipo de negociação favorece quem não tem dinheiro para comprar o que precisa. Para que investir em algo novo se é possível reutilizar o que já temos?”, explica Magalhães.
E para quem busca um estilo de vida, digamos, mais sustentável, já é possível encontrar até mesmo alimentos comercializados em grupos e cooperativas que utilizam a economia solidária como base de negócio. A estudante Carla Prata, por exemplo, abandonou as compras nos supermercados e passou a investir em produtos de pequenos produtores. “A vantagem desse serviço é que a compra é feita diretamente dos produtores, o que garante um produto mais fresco e a manutenção de centenas de famílias. É uma compra consciente”, explica.
Esse tipo de cooperativa já existe em diversas cidades do país. Geralmente, os produtores fazem o cadastro de seus clientes e o grupo passa a se comunicar através de e-mails e redes sociais. Mensalmente, é disponibilizada uma lista com os itens e os clientes cadastrados fazem o pedido, entregue diretamente em suas casas. Para Carla, a escolha permitiu mais economia e saúde.
“Passei a gastar menos. Quando cortei os supérfluos, percebi que poderia viver melhor sem aquele monte de coisas. O dinheiro que sobrou passei a investir em outras atividades, como o lazer. Quando estamos imersos no consumo, não percebemos que o essencial pode ser muito mais simples. O caminho do desenvolvimento passa, sem dúvida, pelo consumo consciente”, afirma.
*A reportagem está publicada na Revista Serpros 7 (mai/jun/jul 2015).

Categorias

Categorias

Categorias

Categorias