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Carta do Estrategista de Investimentos – junho/2020

Carta do Estrategista de Investimentos – junho/2020

A economia começa a dar sinais da retomada da atividade global após os efeitos deletérios da pandemia de coronavírus. China e Europa desenham essa trajetória e deixam um rastro de indicadores socioeconômicos positivos para as economias que ainda enfrentam problemas com a interiorização do vírus. Nas Américas, o número de casos e as mortes seguem crescentes e ainda estão enfrentando surtos intensos, cenário que deve perdurar por algum tempo.

Apesar do relaxamento das normas restritivas sobre os negócios, grande parte do efeito negativo do isolamento social continuará, contudo, devido ao medo e à influência do noticiário negativo sobre o comportamento das pessoas.
Epicentro dos casos de COVID-19 na América, o Brasil mostra os primeiros sinais de recuperação, com a retomada da atividade nas capitais observando os principais indicadores de saúde. Contudo, a convivência com os novos registros de casos deve permanecer nas regiões menos afetadas no primeiro ciclo da disseminação do vírus pelo país.

Dois movimentos antagônicos que delineiam o cenário prospectivo de retomada gradual e desigual brasileira.
Os indicadores de alta frequência e medidas de confiança confirmaram em maio a tendência positiva depois do resultado apresentado em abril – maior queda da atividade econômica mensal esperada para o ano. Ao longo do segundo semestre, o ritmo da atividade econômica deverá progressivamente crescer.

Os programas sociais do governo para conter a crise, por sua vez, apontam riscos fiscais que deverão ser monitorados. Em meio à combinação de melhor atividade econômica e maior preocupação com as contas públicas o espaço para eventuais cortes de juros pelo Copom tornou-se residual.

No balanço geral, os efeitos da crise do coronavírus vêm descortinando características únicas e com importantes efeitos intrínsecos compatíveis às especificidades de cada caso. Cada setor, cada região, cada área da sociedade tem apresentado novos comportamentos, surpreendentes para modelos preditivos de longo prazo. É consenso o cenário de recuperação em meio a riscos e a maior imprevisibilidade inerentes à própria pandemia que deve permanecer dessa forma enquanto não tivermos uma vacina ou tratamento eficazes para o Covid-19.

Reforçamos a atenção e o cuidado quanto aos riscos observados no atual cenário uma vez que o ineditismo da crise econômica e da conjuntura social abre espaço para teorias inusitadas e sem comprovação científica, porém atraentes e oportunas. À luz do arcabouço da economia comportamental, alertamos que em conjunturas como a que estamos vivendo, inédita e sistêmica, o cenário é propício para eclosão de análises pouco fundamentadas desenvolvidas sob fundamentos frágeis e aparentemente mais promissoras do que as desenvolvidas com o rigor de especialistas mais bem-preparados.
Neste sentido, convém ter em mente o efeito Dunning-Kruguer, que identifica o excesso de confiança que a ignorância produz. Em linhas gerais, diante de temas complexos, pessoas totalmente desprovidas de competência tendem a confiar demais em suas avaliações ao passo que, conforme elas acumulam algum conhecimento, por vislumbrarem a complexidade perdem sua autoconfiança. Por fim, o mais irônico, os reais especialistas têm confiança elevada, mas não conseguem reconhecer a complexidade do que fazem pois supõem que seus conhecimentos sejam comuns.

Por fim, é interessante notar que a despeito da violência com que os mercados foram golpeados, todos os Planos de Benefícios do Serpros já estão com rentabilidade positiva no ano e que, em meio à toda desordem, os processos de investimentos mostraram-se robustos e consistentes produzindo a merecida tranquilidade no cumprimento do nosso propósito.

 

Marcelo Castello Branco – Estrategista de Investimentos

15/7/2020

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