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Carta do Gestor de Investimento – junho/2019

Carta do Gestor de Investimento – junho/2019

Em termos globais, o evento mais importante de junho ocorreu logo no início do mês, e foi a fala do presidente do FED, Jerome Powell, na conferência promovida pelo FED de Chicago. No evento, o chairman tentou transmitir uma mensagem otimista com a atividade econômica, mas salientou as questões relacionadas às disputas comerciais e destacou que “não sabemos como ou quando” as divergências podem ser endereçadas.

 

A conferência tinha por objetivo o escrutínio da política monetária implementada ao longo dos últimos 12 meses, portanto, sendo uma peça chave no processo de estudo para proposição de eventuais ajustes. Assim, o discurso de Powell deu voz à leitura que começou no fim de maio, em meio à aversão ao risco, de que o Fed poderia cortar os juros para tornar mais brandas as condições financeiras e, com isso, suavizar a esperada desaceleração econômica.

 

Convém notar que o índice da bolsa americana, S&P 500, havia marcado uma nova máxima histórica em 1º de maio e depois, ao longo do mês, realizou uma forte correção que foi acompanhada pelo aumento da aversão a risco global cujas raízes advém das incertezas do panorama de guerra comercial. Ainda sobre este assunto, vale relembrar que no fim de maio, o Presidente Donald Trump incluiu o México na lista dos países iminentemente expostos a sanções comerciais, exacerbando o sentimento de aversão a risco.

 

Assim, é interessante notar que a consolidação da retórica favorável ao corte de juros, ocorre exatamente no dia da inflexão da trajetória de quedas do S&P 500. A perspectiva de nova injeção de liquidez anima os mercados sobremaneira, a ponto de a bolsa americana realizar outra nova máxima histórica.

 

Com este entorno internacional favorável, os preços dos ativos de risco brasileiros seguem performando bem, apesar de os indicadores de atividade mostrarem sinais inequívocos de perda de dinâmica. As projeções de crescimento do PIB para o ano seguem derretendo e já se encontram abaixo de 1%. Com isso, a pálida recuperação econômica, traduzida nos crescimentos pífios de 2017 e 2018, esvaiu-se e o próprio Banco Central ajustou sua leitura dos dados ao remover o termo “assimétrico” do seu balanço de riscos, na reunião do Comitê de Política Monetária de Junho.

 

Apesar de a trajetória da inflação estar próxima à meta, o mercado vem flertando com cenários de cortes de juros cada vez mais agressivos, cuja temporalidade é determinada pela materialização da aprovação da Agenda Política cujo expoente maior é a Reforma da Previdência.

 

Neste ponto o mercado já precificou um orçamento de cortes futuros relativamente parrudo com projeções concentradas em um ciclo de 75 bps a 150 bps, havendo divisão entre os analistas sobre a data de início, uma vez que ainda não há um calendário fechado que possa nortear o andamento dos trabalhos.

 

Adicionalmente, percebe-se no mercado players que discordam da necessidade do corte e apontam riscos assimétricos em relação a se testar, empiricamente, a hipótese de que os juros neutros se tornaram ainda mais baixos e, portanto, a taxa Selic vigente seria menos expansionista do que o imaginado.

 

Assim, a consolidação da expectativa de corte de juros do Fed, referência global de ativo livre de risco, endossou o cenário de cortes de juros domésticos, como forma de mitigar um eventual fechamento do diferencial de juros – medida relevante na atratividade de fluxo de capitais que produziria apreciação do câmbio e piora das Contas Externas. Assim, pavimentou-se mais um mês de boa rentabilidade para os Planos de Previdência do Serpros. Não obstante, também foram identificados alertas, cujo monitoramento contínuo auxiliará na identificação do momento de esgotamento do cenário base da nossa tese de investimentos e será imperioso substituí-lo.

 

Dentre os alertas, destacam-se, indubitavelmente, os dos riscos e das incertezas que rodeiam o processo político dada a falência do usual sistema de base de coalizão suprapartidária. São enormes os desafios relacionados à Agenda que já está em pauta, da Reforma da Previdência e, e se enganam os que creem que uma vez aprovada a Reforma haverá um surto de produtividade que impulsionará o crescimento instantaneamente. Infelizmente, a realidade é mais dura e a solução mais lenta e complexa, por isso é importante ter clara a estratégia de alocação de risco dos planos para buscar a otimização dos retornos.

 

Marcelo Castello Branco – Gerente de Investimento

 

15/7/2019

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